A grande fome nos EUA.
O grande “trunfo” dos EUA sempre foi a ideia de que o capitalismo deles “deu certo”. Contudo, se você olhar atentamente para a história dos EUA é fácil perceber que o capitalismo deles deu certo quando resvalou na socialdemocracia com o presidente FDR e, por outro lado, acentuou sua incapacidade social quando se voltou ao neoliberalismo de Reagan.
Nada disso é novidade, claro, mas de uns tempos pra cá — provavelmente com a grande polarização da política mundial — a discussão voltou à tona na forma do “ red scare”, ou seja, o medo do comunismo. Com isso voltaram aos noticiários e à vida cotidiana das pessoas comunas as falsidades contra o regime soviético — como as farsas das grandes fomes ou as perseguição de minorias — como se a fome e a falta de moradia fosse algo comum na URSS e inexistente nos EUA de Donald Trump. Muito errado.
Os EUA de Donald Trump abraçaram com força a política de desoneração de ricos — numa política econômica que é amplamente conhecida como “ trickle down” — imaginando que, com o tempo, essa desoneração geraria mais lucros e, por consequência (ou obra divina) esses ricos iriam investir novamente no país gerando empregos com salários melhores.
Nada disso jamais ocorreu, claro — inclusive Donald Trump vai deixar a Casa Branca como um dos poucos presidente a entregar um saldo negativo de empregos — e com isso todos se voltaram, novamente, a apontar os erros do suposto comunismo soviético, criticando as moradias “feias” e padronizadas que eram entregues às pessoas de baixa renda ou as filas para buscar comida nas cidades menores.
Fila de carros em busca de comida no Texas.
Novamente, isso não é aplicável à URSS e sim aos EUA. A foto acima mostra a enorme fila que se forma atualmente no Texas onde os americanos do norte buscam por comida estatal por conta da incapacidade total do governo Trump em lidar com a crise da COVID19.
Aqui no Brasil, onde estamos constantemente brigando com um fantasma ilusório do comunismo, o mesmo pode ocorrer em breve quando o auxílio emergencial for cortado (mesmo os R$300 fazem muita falta, inclusive pra mim), uma vez que o auxilio representou o maior salto para fora da linha da pobreza da história do Brasil. R$600, pouco mais de USD 100, jogaram a maior parte da população do Brasil de volta à roda do consumo e conseguiu, provavelmente, mitigar diversos despejos e muitas fomes endêmicas que poderiam surgir nesse país.
Hoje, tanto Brasil quanto EUA são exemplos de como não tratar o seu povo durante uma pandemia. Enquanto aqui amargamos uma miséria e uma recessão inéditas, vemos os nosso bilionários lucrando absurdamente com essa crise. O mesmo ocorre nos EUA, o país mais rico e que gerou mais riqueza na pandemia é também o país que pior distribuiu essa riqueza no mundo inteiro (concentração de renda é um problema enorme em todos os países capitalistas, mas os EUA e as Américas parecem ser os piores locais).
Claro que os problemas do socialismo/comunismo (eles são apenas uma fase do mesmo governo, aliás) existem e são objeto de estudo desde que ele foi proposto. Por outro lado, os problemas capitalistas são vistos como problemas individuais. A perversão da lógica do capital é exatamente essa: culpar a vítima pela sua posição de vítima (você é pobre porque não se esforçou) colocando o sistema perpetuador de desigualdades como perfeito e o ápice da sociedade humana.
Menos.
Fonte: https://amp.cnn.com/cnn/2020/11/15/us/dallas-texas-food-bank-coronavirus/index.html